Audiência

A temática da audiência é colocada em foco por Masterman (1993), problematizando a sua importância para a compreensão das mídias da educação. Segundo o autor existem dois motivos principais para que a educação audiovisual tenha desconsiderado o estudo da audiência, o primeiro refere-se a importância dada pela crítica literária ao autor em detrimento ao leitor, tradicionalmente, na qual o autor daria significado ao texto que deveria ser claramente entendido pelo leitor. No segundo motivo, o leitor seria visto apenas como um receptor de mensagens posicionando-se de forma passiva frente às informações.

Outra questão levantada consiste no entendimento de que o estudo da audiência se resumia a seu levantamento quantitativo, desprezando as questões de significações e representações que as envolve.

No decorrer dos estudos sobre audiência foram incorporadas outras reflexões importantes que trouxeram mais clareza para a temática. Inicialmente destacam-se os estudos sobre uso e gratificação, nesta visão defendia-se que os espectadores não eram passivos e definiam as suas necessidades em relação às mídias havendo uma liberdade de escolha dos indivíduos. Nessa perspectiva fica clara a fundamentação psicológica individual que não leva em conta as questões sociais e culturais mais amplas, sendo esse seu ponto mais criticado.

Outros autores avançaram nessa discussão, Morley, Parkin e Hall apresentaram numa visão sociocultural e socioeconômica da relação entre mídia e audiência, na qual se defende a idéia de que existe um predomínio de influência dos diferentes grupos que formam um sociedade na interpretação dos conteúdos das mídias, ultrapassando a idéia de uso e gratificação anteriormente exposta. Existe uma interação entre audiência e os conteúdos apresentados pelas mídias que resulta numa interpretação contextualizada por parte dos grupos e subgrupos de uma determinada cultura. Essa proposição traz conseqüências na forma de entender as mídias, e mais além, entender a própria organização das aulas, que envolvem sujeitos ativos que interagem e interpretam as informações que lhe são apresentadas. Também, apresenta a idéia de que a mensagem da mídia pode ser entendida de várias formas e não somente como apresentada por seu autor. Assim, a mensagem é polissêmica e precisa ser decodificada.

No texto foi apresentado três grandes marcos em que se pode situar a pessoa que decodifica uma mensagem: dominante, negociado e oposto. Esse marco reflete os sistemas de significações dos grupos sociais e mostra a complexidade que envolve a decodificação influenciada pelas posições de classe, raça e gênero. Neste sentido, a educação audiovisual tem o desafio de preparar os (as) alunos (as) para compreender e desnaturalizar questões que envolvem as mensagens midiáticas decodificando e apreendendo seu sentido.

Hobson propõe através de seus estudos que os educadores não desvalorizem os programas dos meios de comunicação populares, como rádio e televisão, mas que busque compreendê-los no sentido de ajudar seus alunos e alunas a decodificá-lo ao invés de criticá-los somente de forma negativa.

Smyth apresenta um estudo sobre a mídia enquanto indústria de consciência fundamentada em Althusser enquanto Aparelho Ideológico do Estado criticando a forte influência das mídias que utilizam estratégias ideológicas para dominar os valores e crenças dos sujeitos. A crítica que se faz a essa proposição é o amplo grau de influência das mídias que não deixa margem para uma mudança significativa frente à dominação que elas exercem, sem nenhuma perspectiva de superação dessa realidade.
Por fim, o autor apresenta duas problemáticas frente a discussão da audiência que é a subjetividade e o prazer. Essas questões são manipuladas pelas ideologias que se apresentam de forma subliminar no cotidiano dos sujeitos, na qual o discurso de liberdade de escolha mascara uma realidade de dominação.


Referência: Masterman, Len: Audiência

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